Os grandes times nascem na derrota. E crescem discretamente, com pouca gente se dando
conta do que está se passando. A história aconteceu com o Flamengo inúmeras vezes. A terceira partida de Fleitas Solich como técnico rubro-negro, em 1953, produziu um dos maiores vexames do clube. Derrota por 6 a 0 para o Corinthians, no Pacaembu, com pênalti perdido por Rubens, o Doutor Rúbis. Oito meses depois, com a mesma base do vexame, o Flamengo levantava a primeira taça do que viria a ser o tricampeonato de 1955.
Em 1978, Washington Rodrigues, o Apolinho, decretou que Júnior não tinha futebol para ser lateral-esquerdo do Flamengo, depois da derrota por 5 a 2 para o Grêmio, no Olímpico.
E assim foi também com o time de hoje, que ainda não é grande, mas anuncia que será. Muita gente dirá que o Flamengo recuou demais, até que assistiu ao Atlético em parte do jogo do Mineirão.
Mas, postado na defesa, marcou forte e saiu para o ataque com autoridade. Quem quisesse ver, veria que o gol estava maduro cinco minutos antes de Marcinho fuzilar o goleiro Édson.
Quem quiser ver, verá a autoridade do líder, na derrota ou na vitória.
Verá que, na Gávea, está nascendo um belo time de futebol, como mostraram Marcinho, Kléberson e Juan ontem à noite.
Aquele Flamengo histórico, campeão brasileiro de 1980, perdeu do Atlético, no Mineirão, a primeira partida das finais. A chance de perder a decisão fez, naquela época, muita gente boa adiar a certeza de que aquele Rubro-Negro seria eterno.
Há um ano e meio, quem observa o Flamengo jogar com olhos de lince vê algo mudando na Gávea. Mudava quando o time perdia sob a direção de Ney Franco e quando vencia com Joel Santana. Mas ficou mais claro que mudou agora, que ocupa a liderança, mesmo oscilando entre vitórias como a de sábado, sobre o Náutico, ou derrota contra o São Paulo.
Há uma característica do futebol brasileiro de hoje que torna mais difícil prever quando se formam os times históricos: o êxodo. Com tudo pronto para imaginar o Flamengo brigando pela taça, anuncia-se a transferência de Renato Augusto para o Bayer Leverkusen.
Na terça-feira, já sabendo da possibilidade de perder seu meia, Caio Júnior pensava em Ibson:
– É ótimo que esse fique, porque também joga mais à frente – dizia o técnico.
Por tudo isso, o dia da perda de Renato Augusto não foi um dia triste para os rubro-negros. Foi dia de ver o time jogar como líder. Como o time que anuncia, para quem quiser entender: vai brigar pelo título que não é seu há 16 anos.
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