quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

2010

Final de ano é tempo de todos os tipos de crendices e superstições. Vale tudo: saltar sete ondas; vestir cuecas e calcinhas imaculadas; tomar banho de arruda; andar feito saci pererê repetindo a oração da cabra preta do livro de São Cipriano; vestir a cor do orixá regente; comer duzentas uvas fazendo pedidos; beber champanhe de cabeça pra baixo; imitar índio do velho oeste; cantar o pirulito que bate-bate em chinês; tomar passe espírita de caboclo mais fajuto que nota de três reais e outros babados.

Eu adotei nos últimos anos, e a coisa tem funcionado bem, a estratégia mística de arrotar vigorosamente na hora da virada. Escrevi sobre isso logo no início do meu antigo blog e, desde então, tenho me mantido fiel ao hábito, fundamentado nas tradições milenares da Índia e da velha Pérsia. Explico.

Contam os indianos e os persas que Daksa, o criador, maravilhado com o ser humano, resolveu comemorar a criação enchendo a caveira com o mais puro néctar embriagante. Coisa de 80% de teor alcoólico. Em suma, a divindade tomou uma porranca das boas.

Eis que, no meio da carraspana, Daksa arrotou. Deste arroto nasceu a famosa Vaca Sourabhi, primeira mãe do mundo. Todas as 41 vacas mães do mundo nasceram assim, da eructação do deus.

No Brasil, o arroto é visto como um poderoso instrumento de defesa contra feitiços e pragas. Só ele, por exemplo , é capaz de quebrar o encantamento produzido pela Cobra-Grande, essa assombração pavorosa, quando quer atrair os incautos para seus domínios no fundo das águas.

O arroto também foi visto na Península Ibérica, por muito tempo, como um elogio à qualidade da refeição. Era uma honra para qualquer cozinheiro que, ao final do jantar, uma sinfonia de arrotos, altíssimos, se transformasse na música ambiente, prova cabal do bom sabor dos acepipes.

Constatando isso, só me resta sugerir mais uma vez que os amigos não se avexem e arrotem em profusão na virada do ano. Só pode fazer bem.

Com as bofadas, acreditem, vão embora as pragas de 2009 e, quero crer, as mazelas futuras. Os que arrotam também estarão reproduzindo o elegantíssimo hábito de elogiar as prendas de quem fez a ceia. Coisa fina, sinhá. Por fim, assim como Daksa fez , arrotar de porre é um elemento gerador de novas possibilidades de vida. O arroto é a força da criação.

Encham o pote e arrotem em seguida, dezenas, centenas de vezes. Há, é bom prevenir, o risco de surgir uma vaca no meio da ceia. Neste caso, é pimba na gorduchinha e carne no espeto. Que o churrasco venha ao ponto, nos conformes, que sejam fartas todas as mesas e que a cerveja se mantenha permanentemente gelada.

Feliz 2010!

Até lá.


Fonte: Blog do Simas

Um comentário:

Unknown disse...

Feliz Natal e um próspero ano novo para todos.