sexta-feira, 29 de junho de 2007

O Comodismo pode ser devastador, cuidado!!

"Como você quiser, querida!!"

A partir da repetição de frases como essa, começam a se desmanchar grandes amores que, no início, teriam deixado os envolvidos em absoluto estado de encanto, quando o coração bateu forte, as pernas tremeram, a garganta secou e a felicidade pareceu ter se instalado para sempre.

A vinda de um amor é como um reencontro e produz a sensação de se reconhecer algo muito distante e, ao mesmo tempo, muito íntimo. As dificuldades diárias, a convivência irrestrita, a proximidade inevitável, muitas vezes transformam a relação, ou a colocam no nível da vida cotidiana, onde o tempo para sonhar é pequeno. A insegurança de perder o ser amado leva pessoas, às vezes até bastante equilibradas, a aceitarem, sem grandes restrições, tudo o que o(a) companheiro(a) deseja. É o início da manipulação, que ocorre a partir da aceitação de todas as vontades do parceiro. Se essa forma de agir serve para manter a relação, ao mesmo tempo permite que o abuso se instale.

O ser humano é daninho por essência e, em geral, gosta de se aproveitar de situações de domínio e poder. Ninguém sabe bem onde, nem quando, o abuso se instala, embora seja possível afirmar que ele atrapalha a relação tanto quanto a submissão. Ceder sempre acaba por acumular ressentimentos e mágoas. Ser atendido sempre, acaba por minar os interesses e esvaziar a capacidade de luta. Eu mesmo, muitas vezes, ouvi confissões chorosas em que a pessoa, mostrando-se muito surpresa, argumentava entre lágrimas: "Mas eu fiz tudo o que ele queria, sempre concordei com ele, sempre o ajudei. Adivinhava seus mais profundos pensamentos... Apesar disso tudo, o ingrato me abandonou". Não foi apesar disso tudo. Antes, foi por causa disso tudo que ele se desinteressou. Uma pessoa que aceita tudo sem nada reivindicar, perde suas referências e se anula, não apresentando condições de amar e ser amado(a) em segurança.

O "sim, querida" de hoje, poderá ser a solidão de amanhã. O amor só sobrevive se houver diálogo e coragem.


Helena Martins Daniel

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